Tudo começou com aquele mal estar típico das segundas-feiras. Uma preguiça danada de levantar da cama, os pensamentos dispersos entre a noite mal dormida e a lista de coisas a fazer durante a semana. Mas nada que um bom café da manhã não resolva. E resolveu. Mas no dia seguinte, a mesma sensação. E depois e depois.
Fadiga, estresse, a bendita correria do dia-a-dia. Tanta coisa pode deixar a gente assim meio mole, que fica até difícil adivinhar de primeira. Mas quem recusa sorvete de chocolate numa noite de quarta-feira só pode estar com sérios problemas mentais. Ou estomacais. Ou hormonais.
Peraí, você disse hormonais? Putz, tem que ver isso aí.
Corre todo mundo pra farmácia. O primeiro teste deu positivo, o segundo também, mas eu ainda não estava acreditando (quer dizer, não queria acreditar). Poxa, os meninos já estão grandes, e nas férias a gente ia ver as baleias... Sacanagem!
No dia seguinte, laboratório. Moça, tem como ver o resultado com urgência? Tem sim, sai em 50 minutos. Ufa, vai ser rapidinho. Não foi. Não foi porque o sistema deu pane e o boleto não saía e eu fiquei uns 40 minutos sentada na frente de uma mocinha simpática esperando um pedacinho de papel com um código que me daria o direito de saber, em mais ou menos uma hora, como seria a minha vida dali pra frente. O novo mestrado, o financiamento da casa, a estimulação russa parcelada em três vezes, a tatuagem da Valentina, as três horas diárias de estudo, as baleias da Patagônia, tudo, absolutamente tudo cabia naquele pedacinho de papel.
Poxa, meu sonho sempre foi cortar o cabelo assim, curtinho. Será que eu ia ficar bem? Claro que sim, todo mundo fica bem, tudo sempre acaba bem, se não, é porque ainda não acabou, e eu ficava repetindo aquele mantra e o papel não saía. Então eu propus tirar o sangue sem papelzinho nenhum, já que iria ficar ali mesmo, grudada naquele balcão, esperando a dosagem de hormônios decidir (mais uma vez) a minha vida pelos próximos 30, 40, 50 anos.
E daí que o resultado todos já sabiam. É como se uma onda gigante te pegasse absolutamente desprevenida enquanto você tenta sair da praia dando aquela ajeitada no biquíni pra mostrar o que ainda dá pra mostrar e disfarçar o resto. Caldo, tremendo caldo, o maior deles, e justamente porque não é apenas um, são vários, te arrastando pra tudo que é lado, enquanto as pessoas estão brincando felizes na orla, e por isso ninguém te dá muita bola, pensam até que você está se divertindo também. Mas não, você não está. Quer dizer, em algum momento você vai rir disso tudo, mas não vai ser agora.