terça-feira, 12 de julho de 2011

Um anjo



Obrigada a todos que participaram ontem da campanha de doação de sangue, seja indo ao Hemopa, convocando os amigos e parentes ou simplesmente repassando as mensagens via Twitter. Obrigada a todos que enviaram orações, pedidos e mensagens, mas a pequena Sophia faleceu durante esta madrugada. Já ontem à noite os médicos informaram que as chances eram pequenas, pois novas complicações agravaram mais ainda o quadro de saúde do bebê. 
Meu coração está apertado. Sei que nenhuma palavra, nenhum gesto, será capaz de diminuir a dor de uma mãe ao perder seu filho tão desejado. Há dois anos perdi meu sobrinho Benjamin, no oitavo mês de gestação, embora em circunstâncias diferentes. Sophia agora é uma estrelinha na vida de Aline e Adaucto. Vamos apenas pedir a Deus que conforte o coração dos pais. Força sempre. 

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Júlia, Antônio e Sophia

Dois meses sem aparecer e os grilos fazendo cri-cri por aqui.
Já estou no meio da gravidez e não consegui dar uma atualização decente ao blog. 
A essa altura, quem me acompanha pelo Twitter e Facebook já sabe que espero mais uma menina, a terceira, formando a tríade das Meninas Superpoderosas.
O parto está previsto para o dia 19 de novembro, mas acho que será antecipado. É que as crianças hoje em dia não curtem esse lance de esperar a data certa para vir ao mundo.

Júlia nas primeiras horas de vida. Own.

Mas hoje não quero falar de mim, mas sim dividir a alegria pelo nascimento da pequena Júlia, dos queridos Nicolau e Gil. Nasceu ontem à noite a mocinha, toda gigante, quase quatro quilos.
E eu ainda nem estava recuperada da emoção pelo nascimento do Antônio, herdeiro da Dominik e do Armando. Visitei o moleque na semana passada. Ficamos quatro horas esperando ele acordar - e nada. Tudo bem, outro dia eu volto pra ver as sapequices que ele anda aprontando.

Dominik e Antônio tomando banho de sol. Amores.

Num mundo perfeito, todos os bebês nasceriam aos nove meses e iriam no dia seguinte para suas casas, com suas mamães, seus brinquedos, seus novos amiguinhos. Mas nem sempre é assim.

Éramos quatro barrigudas na redação. Entre uma e outra pauta, conselhos, desabafos, risos e lágrimas, e alguns chocolates. A primeira barriguda, a que lançou a moda entre nós, foi a Aline Rodrigues, chefe de reportagem. Também foi ela quem pariu primeiro. Só que a Sophia se antecipou e veio com sete meses. Como todo bebê prematuro, exige cuidados especiais, por isso está na UTI. Além do baixo peso, Sophia está lutando contra infecções e hoje precisou de doações de sangue. Mas mesmo com todas as dificuldades, ela tem demonstrado uma grande força, uma força gigante, para um ser tão pequenino.

Por isso hoje eu também quero fazer um pedido. Que cada leitor desse blog tire um minuto do seu dia e faça uma pequena oração pela Sophia. Se você não sabe orar, rezar, não importa. Envie um bom pensamento. Para que tudo dê certo, para que a recuperação seja rápida, para que ela possa daqui a pouco estar em casa e viver seus sonhos de criança. E para que as quatro barrigudas da redação possam dividir só alegrias nesta fase tão preciosa da vida.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Estressada, eu?

Nunca mais passei por aqui, imagina os (três) leitores. Mas é que a coisa não tá fáceo, como dizem lá pelo Twitter. Na semana passada feijãozin, que na verdade agora é bacurizin, resolveu me dar um susto. Ficou insistindo em ver o mundo aqui fora, e haja contrações e dores. Corri para o obstetra e ele recomendou uma medicação e repouso absoluto durante três dias. Até aí tudo bem, se não fosse um pedido simples, mas absolutamente inviável: "Evite o estresse."
Me imaginei arrumando as malas e me mandando para uma ilha deserta, bem longe das contas a pagar, do vizinho que reclama da Pepita, do boletim colorido da Clarice, da capa que cai na hora do fechamento. No kit de sobrevivência, apenas (muita) comida e os DVDs com a reprise de Vale Tudo, que eu deixei de acompanhar porque num tenho mais idade pra dormir às duas e acordar às seis. 
Grávidas são seres estressados por natureza, mas o mundo também não colabora para que seja diferente. Porque a sensibilidade está à flor da pele e elas têm que lidar com todos os problemas do cotidiano, com gente que não respeita a vida nem em sua formação, e ainda com um monte de questionamentos e medos que surgem assim, do nada. E se as respostas não forem imediatas (essa é a regra), elas são automaticamente arremessadas num tobogã de emoções. Grávidas são seres filosóficos. A diferença é que, ao invés de escreverem um livro, elas choram. Grávidas são seres solitários. 

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Ai que soninho...

As irmãs fotógrafas Kelley Ryden e Tracy Raver são especialistas em fotos de bebês com semanas de vida. O resultado desse trabalho, que exige dedicação, paciência e muita sensibilidade, está no livro Um Sonho de Bebê, que a editora Pensamento está lançando agora.
Vejam essas fotos e me digam se essas criaturinhas não são anjos que desceram à Terra para tornar nossa vida mais doce.





Tem muito mais no site das fotógrafas. Clica aqui.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Um mal necessário

Você passou meses, anos, achando ridículo aquele figurino pretensamente clean, mas que na verdade parece um saco de coar café gigante confeccionado num tecido mais molenga. 
Mas aí você engravida e - putz! - engorda quase três quilos nas primeiras oito semanas. Nenhuma calça jeans, por mais promessas de lycra que traga na etiqueta, vai dar conta dessa cinturinha de melancia ovo que você acaba de ganhar. Fora que tudo causa agonia, e abrir o guarda-roupa já é um sofrimento. Se pudesse, você iria trabalhar de pijama.  
Então chega o momento de fazer o primeiro grande sacrifício pelo bebê. Você vai ao shopping, de óculos escuros e peruca para não ser reconhecida, e sai de lá com uma calça saruel. Uma, não. Duas, três. Só pra garantir. 
Minha Nossa Senhora do Balé Moderno, do Jazz e do Sapateado. A sensação de conforto é in-crí-vel. Na verdade, a calça saruel só deveria ser liberada para as grávidas. E sob orientação médica. 

Livro de cabeceira

"O que é feito com as crianças 
elas farão com a sociedade."

Essa é uma das frases de rodapé da Agenda da Gravidez, um presente que resolvi dar a mim mesma ontem, mesmo tendo que deixar os dois olhos da cara na livraria. Tive uma agenda idêntica durante minha primeira gravidez, mas por algum motivo que não me pareceria nada convincente hoje, resolvi passá-la adiante depois que a Clarice nasceu. Talvez eu achasse que não viveria aquela experiência de novo - ledo engano, não é?
A Agenda da Gravidez é praticamente um livro, que conta dia-a-dia como está se dando o desenvolvimento do bebê no útero, e também as transformações no organismo da mulher para dar conta do recado. Ainda não consegui me situar, pois, organizada como sou, não anotei o primeiro dia da minha última menstruação. Pelas minhas contas, eu estaria no dia 53 (ou 54) de gestação, mas essa semana confirmo com meu obstetra. 
O dia 54 traz a seguinte informação: "As pálpebras do bebê já estão mais desenvolvidas e a língua, completamente formada. Hoje os ouvidos externos completarão seu desenvolvimento. Os dedos dos pés do bebê perdem o entrelaçamento e parecem mais compridos."
E daí as coisas chegam a um nível de detalhamento tão grande, que não tem como você não sentir que está carregando uma jóia dentro de si. Um sistema tão complexo, e ao mesmo tempo tão imperceptível para quem está aqui do lado de fora, só faz confirmar que cada gravidez é um pequeno milagre. 
É claro que os enjôos, as tonturas e as variações de humor continuam lá. Hoje, aliás, foi a primeira segunda-feira em quatro semanas que consegui levantar da cama e trabalhar normalmente, como se (quase) nada estivesse acontecendo. Agora é fé em Deus e pé na tábua, feliz por ter companhia dentro da própria pele. 


sábado, 23 de abril de 2011

Unidas demais






Clarice e Bia num emocionante musical. Vídeo antigo, acho que tem uns três anos, lembrança de uma época em que elas ainda não brigavam porque uma odeia o Paramore e a outra acha o Justin Bieber um pirralho sem-graça. Bons tempos. 

Uma saudade sem fim

Muita gente em Belém o conhecia, não pelo nome, mas sim pelo apelido. Marcelo "Borel", o pai da Ana Beatriz. Extrovertido, bem humorado, cheio de amigos. Tenho pensado muito nele durante os últimos dias, mais do que o comum. Talvez porque a minha gravidez tenha deixado a Bia meio atordoada, alternando momentos de tolice e maturidade, e isso a tem levado a buscar na figura do pai uma espécie de consolo, diante do medo de ser colocada "de lado" quando o bebê nascer. 
Acontece que o Marcelo não está mais aqui. Ele se foi muito jovem, tinha 28 anos, e a Bia tinha acabado de completar três. Apesar de estarmos separados, os dois eram bem próximos e passavam os finais de semana juntos com frequência. Tentar explicar a morte do pai para um filho pequeno foi a missão mais difícil da minha vida, e continua sendo. Porque a saudade não acaba nunca. E as perguntas que saem da cabecinha dela, ah, essas são de partir o coração.
Há algumas semanas, um polvo de pelúcia que foi presente do pai e que andava esquecido no fundo do guarda-roupa voltou a  ser companheiro inseparável da Bia. E não há uma noite em que ela não peça pra dormir abraçada comigo. Dia desses, no meio de uma conversa, eu disse: "Bia, você sabe que a mamãe não vai deixar de te amar só porque vai ter outro bebê, né?". Ao invés de concordar, ela me saiu com um "tem certeza disso, mãe?". 


 
Bia e papai Marcelo em Icoaraci

Sei que esse medo de "ficar no canto" é normal, e acredito que somente com muita conversa e demonstrações de afeto, agora e depois que o bebê nascer, ela vai se sentir mais segura. Já a saudade do pai é um sentimento mil vezes mais difícil de administrar. 
Menos de um ano depois da morte do Marcelo, a Bia aprendeu a ler sozinha. Ela tinha acabado de completar quatro anos. Lembro do quanto fiquei triste por não poder compartilhar isso com ele. Isso e milhares de outras coisas que vieram depois: a catapora, o recital de Natal, os avanços na aula de natação, os bonecos de massinha, a preguiça de tomar banho, o amor pelos animais, as dezenas de cartas e histórias em quadrinhos. Penso no quanto ele sentiria orgulho de vê-la assim, uma garotinha com a cabeça cheia de ideias, a imaginação que voa lá longe e uma gargalhada que enche a casa de alegria. 


terça-feira, 12 de abril de 2011

Buchudismo é tendência

Gil, eu e Dominik: as grávidas comandam

Há duas semanas ganhou a internet a curiosa história da cadeira da fertilidade: sete funcionárias grávidas em apenas 18 meses num mesmo hotel, na Inglaterra. Histórias como essa a gente vê por aí e no máximo dá boas risadas, depois esquece. Mas a situação é diferente quando acontece bem pertinho de você. Ou melhor, com você. Pra ser mais específica, com você e a sua equipe. 
Somos quatro mulheres e um homem no caderno de cultura do Diário do Pará. Bom, das quatro mulheres, três estão grávidas: eu e as repórteres Dominik e Gil - ou seja, 75% da equipe, considerando-se que o Leonardo não pode fazer parte dessa estatística. Só restou a Amanda, minha editora assistente, que já não aguenta mais tanta patrulha. Aliás, como ela e o Léo são namorados, a encarnação acaba sobrando para os dois. 
Enquanto isso, as três buchudas programam um baby chá coletivo, provavelmente para o início de maio, já que Dominik, a mais apressadinha, daqui a pouco sai de licença. Só ainda não tiveram tempo para sair juntas rumo às comprinhas para os bebês. 
É muita fofura, Brasil.  

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Como lidar?

Ando pensando muito nas coisas que a Maria Mariana diz sobre maternidade, e posso confessar que concordo com boa parte delas. De fato ser mãe é um trabalho que vem sendo desvalorizado ao extremo, ao ponto de muitas mulheres se sentirem culpadas não pelo fato de deixar os filhos em casa para voltar ao batente, mas sim de permitir que os filhos, vez por outra, "atrapalhem" o seu ritmo de trabalho.
Não tenho dúvidas de que é muito mais difícil educar um filho do que ter dois, três empregos. Mas num país tão cheio de desigualdades como o Brasil, é preciso lembrar que, para a maioria das mulheres, passar o dia na rua e deixar o filho com uma babá é a única escolha possível, principalmente quando estamos falando de mães solteiras (1 milhão de membras).


Bia aos quatro meses. Como sair pra trabalhar e deixar um bebê desses em casa? 


Houve uma época, quando a Bia ainda era pequetita, que cheguei a ter quatro empregos, sendo dois fixos e dois frilas, mas que também eram fixos. Não me perguntem como eu consegui, porque sinceramente não sei. Lembro que eu dormia por algumas horas e acordava sobressaltada, no meio da madrugada, e corria pro computador, pra tentar adiantar algum trabalho. Acho que minha insônia crônica começou aí. 
De fato foi um período bem difícil. Eu tinha acabado de me separar do pai da Bia, que não tinha condições de pagar pensão. Então a barra pesou, porque com duas crianças pequenas em casa (a Clarice tinha cinco anos), a despesa é enorme. Mas não aconselho ninguém a fazer o mesmo. 
Num mundo perfeito, mães numa situação como essa teriam todo o apoio (da família, do Estado, das empresas onde trabalham), para que não precisassem sacrificar praticamente as 24 horas do dia para manter suas casas. É claro que nem sempre as mães solteiras são chefes de família, já que muitas continuam morando com os pais (decisão sábia, eu diria). Mas quando não existe essa opção, a mulher precisa se desdobrar entre dois, três empregos, e ainda supermercado, pagamentos, organizar a rotina da casa, e quase não sobra tempo para dar atenção de qualidade às crianças, sem dúvida as mais prejudicadas. 
Maria Mariana é uma mulher corajosa, mas também de sorte, pois de alguma forma pode contar com o apoio do marido e/ou da família para levar adiante seu projeto de maternidade em tempo integral. Aposto que muitas mulheres, se tivessem as mesmas condições, certamente gostariam de fazer o mesmo. 

domingo, 10 de abril de 2011

Sofrências

Sorvete de limão, picolé de limão, limão (claro), laranja, pastilhas Valda.
Tudo isso junto (ou não) logo após as tentativas de café, almoço e jantar.
Então você já acorda estressada, pensando no que comer para não passar mal depois.
E em duas semanas, a única coisa que não deu rebordosa foi o vatapá da cantina da Funtelpa.
De resto, essa tem sido minha emocionante rotina nas primeiras semanas de gravidez: comer, passar mal e dormir. Enquanto isso, o cesto de roupas pra passar vai se avolumando lá no canto da sala.
...
Você reclama da multidão de crianças revirando a casa todos os dias, mas basta uma criaturinha inventar de visitar a colega e bate aquele vazio. Bia foi passar um dia na casa da Ana Luísa; Daniel nem tchuns pra gente; ficamos eu e a Clarice, que agora tá viciada em Tumblr e quase não desgruda mais do laptop. Daí o Rogério inventa de beber até de manhã fazer um risoto com o Paulo e o Luiz. Pronto, você é uma grávida sozinha no mundo.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Sobre galinhas no quintal

Enjôo 24 horas por dia. Simples assim.
E você achando que seria fácil.
Nananinanão.
Marinheira de terceira viagem, eu deveria estar acostumada. Mas não estou.
Até porque as gestações das meninas foram bem diferentes, ou pelo menos eu não lembro de ter sofrido tanto.
Tô experimentando tudo que me indicam. A mais nova aposta é chupar gelo (só tenho que descobrir uma técnica pra fazer isso enquanto edito o caderno).
Até cena de filme com comida tá me enjoando. Sem contar que eu tô um pote, reclamando de tudo, num aguento ver nada fora do lugar... AARRGH!
E ontem voltei ao trabalho na redação, o que pode ser considerada uma vitória, porque finalmente consegui levantar da cama. Mas ainda falta arrumar pique pra conciliar com a assessoria e com todas as outras demandas dessa vida de mãe, jornalista, mulher, dona-de-casa...
Felizes eram nossas avós, que só cuidavam da casa, do marido e de uns 15 filhos. E ainda sobrava tempo pra criar umas galinhas no quintal.


segunda-feira, 4 de abril de 2011

Tempo, tempo

Primeira saída noturna da Clarice. Arte Pará, outubro de 1998. Foto da caríssima Paula Sampaio. 


Clarice e suas experimentações fotográficas, março de 2011. Auto-retrato. 

quarta-feira, 30 de março de 2011

O coração anda a galope

6 semanas. Mais 2 quilos. E um feijão de 4 mm que já tem cérebro e coração. E que coração. Um trocinho minúsculo que anda a galope.
Nem era hoje o encontro marcado. Mas daí eu já tinha perdido o dia de trabalho correndo atrás do meu bom e velho ginecologista, depois que o novo me receitou neosaldina (!) pra essa gripe que tá me matando há quatro dias.
Saí do consultório lá pelas quatro da tarde, a pilha de exames pra fazer.
Ah, quer saber, bora logo ver a cara desse moleque!
Fomos as três, elas de uniforme, mochila, lancheira e o escambau, porque hoje foi o nosso "dia chique" - almoço no restaurante perto da escola, depois mclanche feliz da iCarly, pra Bia não morrer do coração.
Esperamos mais de uma hora, as duas sentadinhas desenhando gatos, fadas, estrelas e todas essas coisas fofas que meninas desenham, e eu desejando um casaco de chinchila pra não morrer de sinusite.
Mas eis que chega o momento tão aguardado e entram todas na sala do exame. O ultrassonografista (?) pergunta: "Vocês querem menina ou menino?". E cada uma responde uma coisa. Claro, é pedir demais que elas concordem em algo.
(Me recuso a contar em detalhes como é feita uma ultrassonografia transvaginal, quem já fez sabe como é, e quem não fez, enfim, nem precisa saber, a não ser que vá para a sala de exame amanhã de manhã bem cedo, mas aí essa pobre alma já deu uma pesquisada no Google, então deixa pra lá).
O fato é que, em menos de três minutos, num monitor até então sem nenhum vestígio de vida, aparece o nosso feijãozin: pequenino, meigo, serelepe. Corações a mil por hora. O dele e os nossos.

terça-feira, 29 de março de 2011

Vagalume

Corajosa? Eu?

É engraçado ver as pessoas me parabenizando pela coragem de colocar mais um bebê neste mundo onde os soldados americanos atraem crianças afegãs com doces para depois alvejá-las a sangue frio e o Japão está em alerta máximo devido à crise nuclear de Fukushima.
Não, gente, eu não sou corajosa. Porque em nenhum momento eu parei e pensei: "Vou fazer isso? Vou." Simplesmente aconteceu. O coração, se pudesse pensar, pararia, já dizia o poeta.
De todas as aventuras da vida, ter filhos é provavelmente aquela que envolve mais riscos, porque inclui você, todo mundo que está ao seu redor e também uma criaturinha indefesa que não está sabendo de nada. Ela está lá, quietinha, brincando no parque de diversão dos bebês - que deve ficar em alguma outra dimensão -, quando recebe o chamado.
Mas ao mesmo tempo em que é uma decisão de alto risco, um filho traz aos pais a oportunidade de renovação. É quase um nascer de novo. Em contato com uma criança, tentamos filtrar nossa negatividade, formando e transformando alguém melhor para o futuro do mundo.
Você também acredita nisso?


segunda-feira, 28 de março de 2011

Tempo bom

Foram muitos votos de saúde e alegria no Facebook, e uma foto que me fez voltar num tempo bom. Fevereiro/março de 1998. Eu, grávida da Clarice, me preparando pra segurar no colo pela primeira vez a Isolda, filha dos meus queridos Nelson (que aparece na foto) e Eliana. Praça Batista Campos, Belém.


P.S. Agora a Isolda tem 13 anos e é uma mocinha liiinda! Detalhe: ela tem três irmãos (!). Pedro e Caio, do segundo casamento do pai (com a querida Lau), e Matheus, do segundo casamento da mãe. Beijo pra ti, Isoldinha! <3

Baby boom

Começou. Pra onde quer que eu olhe tem sempre, sempre uma mulher grávida. Atravessando a rua, na fila do banco, na banca de revistas. Ou então com um bebê no colo. Ou passeando com ele no carrinho. Daí eu ligo a TV e dou de cara com o episódio de Friends em que a Jennifer Aniston está na maternidade às voltas com um parto natural. Grávidas atraem grávidas. Fato.

...

E hoje eu ganhei, ops, o bebê ganhou o seu primeiro presentinho. Uma meia em formato de bichinho, toda colorida. Carinho da tia Adelaide. Own.




domingo, 27 de março de 2011

Diz que eu tô sonhando

Sim, você está grávida.
Não, não foi planejado.
Sim, você já passou por isso antes.
Mas não, você não lembrava como era.
Até porque, se lembrasse, certamente não iria querer passar por tudo de novo.


A natureza é sábia. Tão sábia que dá ódia. Assim que vê o filhote ao vivo e a cores, a mãe esquece automaticamente todos os perrengues que passou durante os longos nove meses de espera.
Enjôo, tontura, falta de ar, cansaço, dor nas pernas...
E o marido do lado perguntando: é assim mesmo? num tá exagerando não? já passou? tá bom assim?
E o povo todo aconselhando: mastiga gengibre, cheira limão, deita de lado, coloca as pernas pra cima...
Mas tudo o que você deseja é dormir, dormir, dormir, e acordar beeeem depois, de preferência num quartinho de bebê já lindamente decorado, os brindes todos organizados na cesta, a babá educada em Oxford.
Dona Márcia, o bebê acaba de arrotar. A senhora gostaria de colocá-lo pra dormir?
Ah, sim, claro.
Hum, que delícia, essa gravidez passou tão rápido que eu nem senti. Ontem mesmo eu estava enjoada, e hoje, vejam só, essa criança já mama, arrota e faz cocô sem dar trabalho nenhum, nem da shantala eu tô precisando, ai que vontade de ter outro, a maternidade é um dom divino...
Corta para a vida real.
Ô, mãe, a gente vai perder o churrasco da casa da madrinha! Mãe, liga pra professora particular, amanhã tem prova de Matemática! "Caminhando e cantando e seguindo a canção..." Daniel, abaixa esse som, eu odeio essa música desde a época do movimento estudantil! Mãe, a Pepita tá tremendo desde ontem, liga pro veterinário, ou melhor, liga pra Adna! Adna, sabes se isso é normal? Olha, os meus também choram quando são vacinados, mas esse negócio de ficar tremendo... Melhor levar em outro veterinário... Dá um floral pra ela. Floral não faz passar a dor. É, não faz, mas acalma. É verdade, acalma. Então aproveita e me dá um pouco também.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Gargalhadas e lágrimas

No intervalo de 48 horas bati todos os recordes de SMS para os meus amigos e familiares. Cada um recebeu sua mensagem personalizada contando a novidade. E ainda faltou gente. 
Mamãe é a primeira a telefonar: 
Eu estava louca pra ser avó de novo!
É mentira, claro. Não tem nem um ano que meu sobrinho Davi nasceu. Mas que bom, mãe serve pra isso mesmo, pra vibrar em todos os momentos, e não pra te encher de perguntas. Valeu, mãe, te amo também.
Ivana diz que perdeu quatro dentes com a notícia, pergunta se isso foi golpe para garantir estabilidade no emprego e se já me inscrevi no Bolsa Família. 
Dominik, que também está grávida, manda uma mensagem que me faz chorar no táxi de volta pra casa. Jéssica, outra recém-barriguda, me manda boas-vindas ao clube das cinturinhas de ovo. Oh, God, eu tinha esquecido essa parte. 
Não que minha cinturinha ainda existisse, mas o que se viu 48 horas depois do letreiro POSITIVO piscando na Doca de Souza Franco é digno de nota: 80% das minhas calças simplesmente se recusaram a fechar o zíper. Blusas de malha encolheram misteriosamente, e as calcinhas, bem, não sei como eu me sentia vestida com aquilo. Eu era uma grávida aprisionada no corpo de uma não-grávida.

Os meus, os seus, os nossos

Muita gente pode não entender como uma senhora de 36 anos pode falar de gravidez não planejada. 
Queridos, a vida real é assim. Pelo menos a minha, of course. Fiz até uma sinopse pra facilitar a história, caso vc não me conheça.

Primeira gestação: 24 anos. Tempo de namoro: três meses. Pai: Dirceu. Entre namoro, gravidez e fim do casamento foram três anos. A Clarice tinha dois na época. Hoje é adolescente, adora fotografar, ler e escrever. Se eu deixar, passa o dia no computador criando looks. O pai casou de novo e mora em Brasília.  

Segunda gestação: 28 anos. Tempo de namoro: menos de um ano. Pai: Marcelo. Terminamos e descobri que estava grávida. Ele tinha ido embora pra outra cidade, voltou, tentamos de novo, não deu certo. Quando nos separamos a Bia tinha dez meses. Ele morreu em março de 2006, vítima de problema cardíaco. Ela tinha três anos. É uma das crianças mais alegres e cativantes que conheço. Aprendeu a ler sozinha, aos quatro anos, canta, dança e desenha como ninguém. Diz que vai ser veterinária.

Levando em consideração esse histórico, essa é a minha gravidez menos não planejada, digamos assim. Dois anos de casada, um apartamento onde convivem eu, meu marido, Rogério, minhas duas meninas, o filho dele, Daniel, o gato Gustavo e a cachorrinha Pepita. Ou seja, com a casa cheia são sete criaturas. E ninguém nunca se matou (nem chegou perto disso). Uma típica família moderna, com todo mundo junto. Mas estava faltando, sim, alguém que seria a ligação entre todas essas pessoas. Sabe aquela história de “os seus, os meus, os nossos”? 

quinta-feira, 24 de março de 2011

É sério isso?

Tudo começou com aquele mal estar típico das segundas-feiras. Uma preguiça danada de levantar da cama, os pensamentos dispersos entre a noite mal dormida e a lista de coisas a fazer durante a semana. Mas nada que um bom café da manhã não resolva. E resolveu. Mas no dia seguinte, a mesma sensação. E depois e depois.
Fadiga, estresse, a bendita correria do dia-a-dia. Tanta coisa pode deixar a gente assim meio mole, que fica até difícil adivinhar de primeira. Mas quem recusa sorvete de chocolate numa noite de quarta-feira só pode estar com sérios problemas mentais. Ou estomacais. Ou hormonais.
Peraí, você disse hormonais? Putz, tem que ver isso aí.
Corre todo mundo pra farmácia. O primeiro teste deu positivo, o segundo também, mas eu ainda não estava acreditando (quer dizer, não queria acreditar). Poxa, os meninos já estão grandes, e nas férias a gente ia ver as baleias... Sacanagem!
No dia seguinte, laboratório. Moça, tem como ver o resultado com urgência? Tem sim, sai em 50 minutos. Ufa, vai ser rapidinho. Não foi. Não foi porque o sistema deu pane e o boleto não saía e eu fiquei uns 40 minutos sentada na frente de uma mocinha simpática esperando um pedacinho de papel com um código que me daria o direito de saber, em mais ou menos uma hora, como seria a minha vida dali pra frente. O novo mestrado, o financiamento da casa, a estimulação russa parcelada em três vezes, a tatuagem da Valentina, as três horas diárias de estudo, as baleias da Patagônia, tudo, absolutamente tudo cabia naquele pedacinho de papel.  
Poxa, meu sonho sempre foi cortar o cabelo assim, curtinho. Será que eu ia ficar bem? Claro que sim, todo mundo fica bem, tudo sempre acaba bem, se não, é porque ainda não acabou, e eu ficava repetindo aquele mantra e o papel não saía. Então eu propus tirar o sangue sem papelzinho nenhum, já que iria ficar ali mesmo, grudada naquele balcão, esperando a dosagem de hormônios decidir (mais uma vez) a minha vida pelos próximos 30, 40, 50 anos.
E daí que o resultado todos já sabiam. É como se uma onda gigante te pegasse absolutamente desprevenida enquanto você tenta sair da praia dando aquela ajeitada no biquíni pra mostrar o que ainda dá pra mostrar e disfarçar o resto. Caldo, tremendo caldo, o maior deles, e justamente porque não é apenas um, são vários, te arrastando pra tudo que é lado, enquanto as pessoas estão brincando felizes na orla, e por isso ninguém te dá muita bola, pensam até que você está se divertindo também. Mas não, você não está. Quer dizer, em algum momento você vai rir disso tudo, mas não vai ser agora.