quarta-feira, 30 de março de 2011

O coração anda a galope

6 semanas. Mais 2 quilos. E um feijão de 4 mm que já tem cérebro e coração. E que coração. Um trocinho minúsculo que anda a galope.
Nem era hoje o encontro marcado. Mas daí eu já tinha perdido o dia de trabalho correndo atrás do meu bom e velho ginecologista, depois que o novo me receitou neosaldina (!) pra essa gripe que tá me matando há quatro dias.
Saí do consultório lá pelas quatro da tarde, a pilha de exames pra fazer.
Ah, quer saber, bora logo ver a cara desse moleque!
Fomos as três, elas de uniforme, mochila, lancheira e o escambau, porque hoje foi o nosso "dia chique" - almoço no restaurante perto da escola, depois mclanche feliz da iCarly, pra Bia não morrer do coração.
Esperamos mais de uma hora, as duas sentadinhas desenhando gatos, fadas, estrelas e todas essas coisas fofas que meninas desenham, e eu desejando um casaco de chinchila pra não morrer de sinusite.
Mas eis que chega o momento tão aguardado e entram todas na sala do exame. O ultrassonografista (?) pergunta: "Vocês querem menina ou menino?". E cada uma responde uma coisa. Claro, é pedir demais que elas concordem em algo.
(Me recuso a contar em detalhes como é feita uma ultrassonografia transvaginal, quem já fez sabe como é, e quem não fez, enfim, nem precisa saber, a não ser que vá para a sala de exame amanhã de manhã bem cedo, mas aí essa pobre alma já deu uma pesquisada no Google, então deixa pra lá).
O fato é que, em menos de três minutos, num monitor até então sem nenhum vestígio de vida, aparece o nosso feijãozin: pequenino, meigo, serelepe. Corações a mil por hora. O dele e os nossos.

terça-feira, 29 de março de 2011

Vagalume

Corajosa? Eu?

É engraçado ver as pessoas me parabenizando pela coragem de colocar mais um bebê neste mundo onde os soldados americanos atraem crianças afegãs com doces para depois alvejá-las a sangue frio e o Japão está em alerta máximo devido à crise nuclear de Fukushima.
Não, gente, eu não sou corajosa. Porque em nenhum momento eu parei e pensei: "Vou fazer isso? Vou." Simplesmente aconteceu. O coração, se pudesse pensar, pararia, já dizia o poeta.
De todas as aventuras da vida, ter filhos é provavelmente aquela que envolve mais riscos, porque inclui você, todo mundo que está ao seu redor e também uma criaturinha indefesa que não está sabendo de nada. Ela está lá, quietinha, brincando no parque de diversão dos bebês - que deve ficar em alguma outra dimensão -, quando recebe o chamado.
Mas ao mesmo tempo em que é uma decisão de alto risco, um filho traz aos pais a oportunidade de renovação. É quase um nascer de novo. Em contato com uma criança, tentamos filtrar nossa negatividade, formando e transformando alguém melhor para o futuro do mundo.
Você também acredita nisso?


segunda-feira, 28 de março de 2011

Tempo bom

Foram muitos votos de saúde e alegria no Facebook, e uma foto que me fez voltar num tempo bom. Fevereiro/março de 1998. Eu, grávida da Clarice, me preparando pra segurar no colo pela primeira vez a Isolda, filha dos meus queridos Nelson (que aparece na foto) e Eliana. Praça Batista Campos, Belém.


P.S. Agora a Isolda tem 13 anos e é uma mocinha liiinda! Detalhe: ela tem três irmãos (!). Pedro e Caio, do segundo casamento do pai (com a querida Lau), e Matheus, do segundo casamento da mãe. Beijo pra ti, Isoldinha! <3

Baby boom

Começou. Pra onde quer que eu olhe tem sempre, sempre uma mulher grávida. Atravessando a rua, na fila do banco, na banca de revistas. Ou então com um bebê no colo. Ou passeando com ele no carrinho. Daí eu ligo a TV e dou de cara com o episódio de Friends em que a Jennifer Aniston está na maternidade às voltas com um parto natural. Grávidas atraem grávidas. Fato.

...

E hoje eu ganhei, ops, o bebê ganhou o seu primeiro presentinho. Uma meia em formato de bichinho, toda colorida. Carinho da tia Adelaide. Own.




domingo, 27 de março de 2011

Diz que eu tô sonhando

Sim, você está grávida.
Não, não foi planejado.
Sim, você já passou por isso antes.
Mas não, você não lembrava como era.
Até porque, se lembrasse, certamente não iria querer passar por tudo de novo.


A natureza é sábia. Tão sábia que dá ódia. Assim que vê o filhote ao vivo e a cores, a mãe esquece automaticamente todos os perrengues que passou durante os longos nove meses de espera.
Enjôo, tontura, falta de ar, cansaço, dor nas pernas...
E o marido do lado perguntando: é assim mesmo? num tá exagerando não? já passou? tá bom assim?
E o povo todo aconselhando: mastiga gengibre, cheira limão, deita de lado, coloca as pernas pra cima...
Mas tudo o que você deseja é dormir, dormir, dormir, e acordar beeeem depois, de preferência num quartinho de bebê já lindamente decorado, os brindes todos organizados na cesta, a babá educada em Oxford.
Dona Márcia, o bebê acaba de arrotar. A senhora gostaria de colocá-lo pra dormir?
Ah, sim, claro.
Hum, que delícia, essa gravidez passou tão rápido que eu nem senti. Ontem mesmo eu estava enjoada, e hoje, vejam só, essa criança já mama, arrota e faz cocô sem dar trabalho nenhum, nem da shantala eu tô precisando, ai que vontade de ter outro, a maternidade é um dom divino...
Corta para a vida real.
Ô, mãe, a gente vai perder o churrasco da casa da madrinha! Mãe, liga pra professora particular, amanhã tem prova de Matemática! "Caminhando e cantando e seguindo a canção..." Daniel, abaixa esse som, eu odeio essa música desde a época do movimento estudantil! Mãe, a Pepita tá tremendo desde ontem, liga pro veterinário, ou melhor, liga pra Adna! Adna, sabes se isso é normal? Olha, os meus também choram quando são vacinados, mas esse negócio de ficar tremendo... Melhor levar em outro veterinário... Dá um floral pra ela. Floral não faz passar a dor. É, não faz, mas acalma. É verdade, acalma. Então aproveita e me dá um pouco também.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Gargalhadas e lágrimas

No intervalo de 48 horas bati todos os recordes de SMS para os meus amigos e familiares. Cada um recebeu sua mensagem personalizada contando a novidade. E ainda faltou gente. 
Mamãe é a primeira a telefonar: 
Eu estava louca pra ser avó de novo!
É mentira, claro. Não tem nem um ano que meu sobrinho Davi nasceu. Mas que bom, mãe serve pra isso mesmo, pra vibrar em todos os momentos, e não pra te encher de perguntas. Valeu, mãe, te amo também.
Ivana diz que perdeu quatro dentes com a notícia, pergunta se isso foi golpe para garantir estabilidade no emprego e se já me inscrevi no Bolsa Família. 
Dominik, que também está grávida, manda uma mensagem que me faz chorar no táxi de volta pra casa. Jéssica, outra recém-barriguda, me manda boas-vindas ao clube das cinturinhas de ovo. Oh, God, eu tinha esquecido essa parte. 
Não que minha cinturinha ainda existisse, mas o que se viu 48 horas depois do letreiro POSITIVO piscando na Doca de Souza Franco é digno de nota: 80% das minhas calças simplesmente se recusaram a fechar o zíper. Blusas de malha encolheram misteriosamente, e as calcinhas, bem, não sei como eu me sentia vestida com aquilo. Eu era uma grávida aprisionada no corpo de uma não-grávida.

Os meus, os seus, os nossos

Muita gente pode não entender como uma senhora de 36 anos pode falar de gravidez não planejada. 
Queridos, a vida real é assim. Pelo menos a minha, of course. Fiz até uma sinopse pra facilitar a história, caso vc não me conheça.

Primeira gestação: 24 anos. Tempo de namoro: três meses. Pai: Dirceu. Entre namoro, gravidez e fim do casamento foram três anos. A Clarice tinha dois na época. Hoje é adolescente, adora fotografar, ler e escrever. Se eu deixar, passa o dia no computador criando looks. O pai casou de novo e mora em Brasília.  

Segunda gestação: 28 anos. Tempo de namoro: menos de um ano. Pai: Marcelo. Terminamos e descobri que estava grávida. Ele tinha ido embora pra outra cidade, voltou, tentamos de novo, não deu certo. Quando nos separamos a Bia tinha dez meses. Ele morreu em março de 2006, vítima de problema cardíaco. Ela tinha três anos. É uma das crianças mais alegres e cativantes que conheço. Aprendeu a ler sozinha, aos quatro anos, canta, dança e desenha como ninguém. Diz que vai ser veterinária.

Levando em consideração esse histórico, essa é a minha gravidez menos não planejada, digamos assim. Dois anos de casada, um apartamento onde convivem eu, meu marido, Rogério, minhas duas meninas, o filho dele, Daniel, o gato Gustavo e a cachorrinha Pepita. Ou seja, com a casa cheia são sete criaturas. E ninguém nunca se matou (nem chegou perto disso). Uma típica família moderna, com todo mundo junto. Mas estava faltando, sim, alguém que seria a ligação entre todas essas pessoas. Sabe aquela história de “os seus, os meus, os nossos”? 

quinta-feira, 24 de março de 2011

É sério isso?

Tudo começou com aquele mal estar típico das segundas-feiras. Uma preguiça danada de levantar da cama, os pensamentos dispersos entre a noite mal dormida e a lista de coisas a fazer durante a semana. Mas nada que um bom café da manhã não resolva. E resolveu. Mas no dia seguinte, a mesma sensação. E depois e depois.
Fadiga, estresse, a bendita correria do dia-a-dia. Tanta coisa pode deixar a gente assim meio mole, que fica até difícil adivinhar de primeira. Mas quem recusa sorvete de chocolate numa noite de quarta-feira só pode estar com sérios problemas mentais. Ou estomacais. Ou hormonais.
Peraí, você disse hormonais? Putz, tem que ver isso aí.
Corre todo mundo pra farmácia. O primeiro teste deu positivo, o segundo também, mas eu ainda não estava acreditando (quer dizer, não queria acreditar). Poxa, os meninos já estão grandes, e nas férias a gente ia ver as baleias... Sacanagem!
No dia seguinte, laboratório. Moça, tem como ver o resultado com urgência? Tem sim, sai em 50 minutos. Ufa, vai ser rapidinho. Não foi. Não foi porque o sistema deu pane e o boleto não saía e eu fiquei uns 40 minutos sentada na frente de uma mocinha simpática esperando um pedacinho de papel com um código que me daria o direito de saber, em mais ou menos uma hora, como seria a minha vida dali pra frente. O novo mestrado, o financiamento da casa, a estimulação russa parcelada em três vezes, a tatuagem da Valentina, as três horas diárias de estudo, as baleias da Patagônia, tudo, absolutamente tudo cabia naquele pedacinho de papel.  
Poxa, meu sonho sempre foi cortar o cabelo assim, curtinho. Será que eu ia ficar bem? Claro que sim, todo mundo fica bem, tudo sempre acaba bem, se não, é porque ainda não acabou, e eu ficava repetindo aquele mantra e o papel não saía. Então eu propus tirar o sangue sem papelzinho nenhum, já que iria ficar ali mesmo, grudada naquele balcão, esperando a dosagem de hormônios decidir (mais uma vez) a minha vida pelos próximos 30, 40, 50 anos.
E daí que o resultado todos já sabiam. É como se uma onda gigante te pegasse absolutamente desprevenida enquanto você tenta sair da praia dando aquela ajeitada no biquíni pra mostrar o que ainda dá pra mostrar e disfarçar o resto. Caldo, tremendo caldo, o maior deles, e justamente porque não é apenas um, são vários, te arrastando pra tudo que é lado, enquanto as pessoas estão brincando felizes na orla, e por isso ninguém te dá muita bola, pensam até que você está se divertindo também. Mas não, você não está. Quer dizer, em algum momento você vai rir disso tudo, mas não vai ser agora.